Por Gregorio F. Baremblitt
Todas as nações contemporâneas republicanas e democráticas, seja qual for o “tipo” de democracia que pratiquem (presidencialista, parlamentarista, etc.), sustentam uma série de organismos e subscrevem uma quantidade de leis, que lhes provêem uma certa sensação de unidade, de reconhecimento recíproco e de confiança mútua. Todas essas medidas coletivas costumam condensar-se em experiências de segurança, de diversos tipos e graus.
A variedade desses tipos e graus de experiência de segurança é imensa e dentro de seu amplíssimo espectro, a constatação de uma identidade de nacionalidade (sempre que se trate de populações em estado de direito e sem conflitos separatistas em curso ou recentes) quase sempre tem sido sentida como imediata e importante.
É de surpreender-se a medida que a existência nas grandes e até nas médias cidades “civilizadas” na atualidade perdeu essa feição de proximidade, de confiança espontânea e de segurança.
Para tratar de expressá-lo de outra maneira: Perceber que um interlocutor ou um interator social circunstancial desconhecido é um conacional apenas costuma levar a uma tendência a ser com ele um pouco mais “educado” ou “urbano” que com o resto dos congêneres em cena.
Necessita-se de uma copermanência e uma interrrelação relativamente prolongada para poder animar-se a solicitar dessas pessoas, por exemplo, “que tomem conta de nossa bagagem pesada quando entramos no toalete do aeroporto (ou estação de transportes)”.
Esse exemplo que acabo de dar, que pareceria demonstrativo e conhecido dez anos atrás, cria desconfiança e insegurança não já como episódio realmente ocorrido, senão apenas como relato, ao qual se atribui querer ser convincente. E é absolutamente óbvio que deve ser assim, à medida que as paredes do citado aeroporto, seguramente devem estar “recheadas” de avisos que advertem enfaticamente aos passageiros não receberem sob seus cuidados nenhum tipo de volume que lhes seja entregue por um desconhecido no recinto do aeroporto ou próximo a ele. Já é notório para quem quer que seja que o perigo advertido e a insegurança estabelecida têm a ver com a forte possibilidade de que o envoltório em questão contenha drogas, armas ou explosivos.
A convicção intensamente transmitida é que a aceitação desse “vulto” pode colocar imediata e consideravelmente em risco, não só a vida do “amável” companheiro de viagem, mas também a de todos os ocupantes do veículo de que se trate e a de (quem sabe?) de outros aos quais o presumido produto ou objeto transportado pode alcançar.
Em realidade, as provas de que essa desconfiança é plausível e as precauções indispensáveis, se multiplicaram durante os últimos anos em trágicos e truculentos atentados.
Se bem que seja possível configurar muito laboriosamente minuto após minuto, mediante as contribuições do futurista aparato planetário de redes eletrônicas que vigiam incessantemente o mundo, um plano de rotas de maior ou menor periculosidade possível, é inviável torná-lo inteiramente seguro e excluído de perigos. Pelo momento, e especialmente em rotas e em faixas comprometidas com conflagrações ou tensões em plena atividade, é marcadamente recomendável ter, pelo menos, esses perigos em mente, persistentemente, senão estar em pleno alarme, conforme os casos.
É neste ponto em que a “medida” do “tipo” e do “grau” de segurança ou insegurança manifestada pelos passageiros, em relação às condições de risco declaradas “objetivas” pelos sistemas de segurança (uma de cujas especialidades é equivocar-se) é uma fonte colossal de observações acerca da “natureza” humana.
É certo que o principal recurso do Terror é o de fazer crer a seus destinatários que é capaz de uma ubiqüidade da qual em realidade carece e dessa forma induzir a uma submissão e a uma paralisia infinitamente maior do que a que pode difundir. Não obstante, é preciso reconhecer que o principal aliado do Terror não é a coragem, senão a infinita diversidade da futilidade humana.
Essa infinita diversidade se resume em seis ilustrações:
1) Porque é preciso justo agora fazer turismo ao Sagrado Sepulcro ou ao Muro das Lamentações.
2) Porque devemos visitar justo agora nossos parentes longínquos na Colômbia ou no Líbano?
3) Porque há quem se empenha em ignorar, justo agora, por exemplo, que viajar pela Costa Rica em ônibus é mais seguro que fazer um passeio em aeronaves pelo Irã, Síria ou Kênia?
4) Porque temos que saborear pessoalmente, justo agora, os cenários mais encarniçados, se podemos ver os atentados pela televisão e se, para participarmos, do ”coro” mais que para fazer donativos aos movimentos de protesto contra os massacres?
5) Será que há quem crê que um fluxo firme e denso de viajantes desanimará a delinqüência ou o terrorismo?
6) Por último: qual será e tipo e o grau de insegurança que é preciso experimentar para preferir nosso dormitório, (onde raríssima vez entrou uma bala perdida), aos territórios do Terror, onde rara vez se perde alguma?...
Um amigo recentemente nos dizia:
- “Nada me impedirá de fazer a vida que elegi”.
E é claro que se referia a uma vida prazenteira e alegre para viver, a qual não cederia a nenhum dos difundidos prazeres estatisticamente perigosos da contemporaneidade.
Outro amigo, já muito “viajado” e experimentado nos dizia, pelo contrário, que havia aprendido com o tempo que no mundo há muitos mais lugares parecidos que diferentes. “A vida atual massificou tanto as diversões e prazeres que, a miúdo, basta experimentar uns poucos para saber como são todos.
O que atualmente estamos perdendo é o chamado “mundo interno”, quer dizer, uma fecunda e audaz relação conosco mesmos. Não é que a mesma careça de perigos, mas não são os de morrer assaltado por púberes molambentos ou por fanáticos fundamentalistas.
A chamada “segurança” como todo bem escasso se valorizou no mercado e, freqüentemente, o problema consiste em que, para ganhar o que custa a segurança é preciso trabalhar em condições e intensidades de alto risco. Por outro lado, quanto mais medidas ostensivas de segurança adotamos, mais elas se tornam supostas evidências de que temos riquezas para proteger. Esses “sinais” são convites para sermos atacados sendo que, frequentemente somos agredidos por aqueles ou aquele que armamos para guarnecer-nos.
Como a sempre utópica segurança está se tornando cada vez mais inalcançável, só nos ocorrem duas opções mais ou menos dignas: ou nos retiramos para lugares geográficos e íntimos nos quais os riscos, a violência e a morte são altamente improváveis e nos dedicamos a ser melhor do que somos ou, se vamos morrer, que seja lutando ativamente contra a insegurança humana e por uma vida digna para todos.
Aceita-se participar de uma investigação cômica: marque com uma cruz qual prefere:
Ser médico sem fronteiras? ( )
Meditar em um refúgio antiatômico secreto? ( )
Ganhar o prêmio FIDELIDADE da American Aerolines por milhas turísticas recorridas? ( )
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