quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

1 - A ESCOLA DE LUTO

(Relato de uma Investigação Institucional)

Por Gregório F. Baremblitt

Apresentação:

Escolhi este caso, dentre a minha larga trajetória como analista institucional, por várias razões. Em primeiro lugar porque, cuidando do sigilo que estas apresentações devem respeitar, o presente trabalho foi realizado há muitos anos atrás e em um estabelecimento situado em outro país. Em segundo lugar, porque segundo me parece, a intervenção mostra uma certa simplicidade e ao mesmo tempo uma exuberância, próxima do espetacular. Embora não sejam características habituais do nosso “metier”, me parecem úteis, num sentido pedagógico, para os alunos que estão formando-se como analistas institucionais. Os mesmos, a miúde, se perdem na complicação e na isenção, assim como na sutileza e resolução apenas transitória, que muitas intervenções apresentam Essas peculiaridades -que fazem parte de nossa difícil missão- não se prestam para que as comunicações al respeito sejam demasiado ilustrativas.
Obviamente, não desconhecemos que temos selecionado, abreviado, enfatizado, interpretado etc, os inumeráveis dados que constituem o chamado “material” do processo narrado. Mas temos feito todo isso com a clara intenção de sublinhar alguns aspectos, entre os quais se privilegiam dois em especial: a repressão geral de determinados acontecimentos traumáticos -e a difusão generalizada que até chega a alcançar certo efeito de produção de subjetividade no alunado e no corpo de diretores e funcionários. Neste caso, os não ditos organizacionais são, em nosso entender, o gerador de uma não assunção da participação causal prevalente dos mencionados acontecimentos como determinantes e como analisadores da problemática sofrida e consultada.



Análise da Oferta

O autor desta comunicação fazia parte de uma organização Institucionalista ou Instituinte que praticava todos os procedimentos dessa inspiração na cidade onde este caso transcorreu. A equipe da mencionada organização havia praticado uma intervenção muito bem sucedida numa escola secundária conhecida naquela comunidade.
Alguns professores desta escola, eram conhecidos do Diretor da segunda escola (aquela que nos consultou) e estes professores, conhecedores da problemática que afetava a segunda escola, recomendaram ao mencionado diretor que nos consultasse.
O Diretor que era um dos cinco proprietários que integravam a sociedade privada de responsabilidade limitada proprietária da escola, nos pediu uma entrevista por telefone e assim marcamos um encontro. Nesse pedido, o Diretor solicitou que a citada consulta fosse realizada exclusivamente comigo, que era, por minha vez, Coordenador da equipe de nosso estabelecimento. Desejava manter o maior grau de reserva possível sobre a problemática que era motivo da entrevista e supunha que se a primeira conversa fosse rigorosamente pessoal, isso contribuiria para manter o sigilo do que seria tratado.

Análise Provisória da Demanda.

Marcada a entrevista, o diretor, um homem de uns 45 anos de idade, vestido corretamente e de maneiras muito corteses e educadas, ainda que de trato muito distante e frio, compareceu em meu consultório.
Começou dizendo que não conhecia nossa “especialidade” nem nossa maneira de trabalhar, mas que as referências que havia recebido, o alentavam a um contato que nos permitisse mutuamente avaliar a pertinência de uma possível intervenção em seu estabelecimento.
Começou caracterizando sua organização como uma escola privada, destinada a um alunado de classe média alta, que tinha dez anos de funcionamento, um rendimento geral bastante bom, uma quantidade de alunos adequada às instalações e um sucesso econômico e pedagógico conhecido na praça. Explicou que a escola era muito exigente quanto á qualidade de suas instalações (tinha uma sede muito ampla, maior que suas necessidades de ocupação), programas, metodologias de ensino e de disciplina, modernos e baseados em alguns pioneiros da pedagogia científica e alternativa, entre os quais, destacou Piaget e George Mead. Disse que, segundo lhe parecia, tanto os alunos como os professores e demais funcionários estavam satisfeitos com os salários, com as condições de trabalho, com os programas e as metodologias de ensino o que se refletia nos bons resultados obtidos pela organização, tanto no que se referia á sua qualidade de ensino quanto a seus benefícios econômicos que eram “razoáveis”.
Continuando, explicou que, há mais de dois anos, reinava no pessoal do estabelecimento, desde os administrativos até ao alunado, uma atmosfera triste e apática, de pouco entusiasmo e de dedicação apenas formal à suas respectivas tarefas. Esse clima não chegava a comprometer seriamente a quantidade e a qualidade das atividades, mas as havia tornado generalizadamente medíocres e pouco prazerosas.
O Diretor me disse que, embora, como havia antecipado, não conhecesse bem nossos serviços, os professores amigos da outra escola, lhe havia mencionado que nós operávamos muito com recursos dramáticos, audiovisuais e expressivos, e que ele supunha que o seu pessoal estava precisando era, exatamente, de um programa de técnicas que os alegrasse e que fosse capaz de “levantar o ânimo”. Interrogado se ele tinha alguma hipótese acerca da causa do fenômeno pelo qual consultava, o funcionário respondeu que não tinha a menor idéia a respeito, mas que estava seguro de que não se devia a nenhum defeito grave da estrutura e dinâmica da organização, (que ele conduzia com a maior competência), e também não respeito da abundância de recursos pedagógicos.

Análise Provisória do Encargo

Através da prolongada conversa que mantive com o professor e de algumas perguntas discretas mas intencionadas que fui formulando, cheguei à conclusão, de que no encargo, em que predominava o desconhecimento e a repressão, mas não a má fé, o pedido consistia em melhorar a citada atmosfera com um programa de distração do tipo lúdico, que funcionasse como uma espécie de “motivação” -e de “antidepressivo”, mas tomando especial cuidado em não procurar supostos determinantes desse sintoma analisador, porque o mesmo “não existia” como tal. Por outro lado, pressenti uma mensagem não explícita no discurso do funcionário que deixava entender que queria que a intervenção fosse feita só por mim e, que eu não devia convocar ninguém “alheio à escola”, como por exemplo os pais dos alunos, que supostamente “nada sabiam e nada tinham que ver” com o que estava acontecendo.

Realização do Contrato Provisório e Acordo acerca das condições para um Diagnóstico Provisório.

Expliquei para o Diretor, que dada a sua insistência em que fosse somente eu a desenvolver o trabalho, eu o aceitava, mas que não era o ideal, porque nosso modo de operar era invariavelmente em equipe, o que seria especialmente apropriado dada as proporções da escola, número de alunos, professores, etc, assim como o grau em que a citada “sintomatologia” afetava a todos os integrantes, de modo geral. Manifestei-lhe que teríamos que fazer um contrato provisório, com dispositivos provisórios para eu poder ter uma idéia preliminar do que estava acontecendo, algum prognóstico e se a Análise Institucional estava , pelo menos a princípio, indicada para o caso. Percebi que o Diretor não se sentiu conformado com esse caráter preliminar da gestão, porque era evidente que queria solucionar a problemática da maneira mais rápida e simples possível, entre outras coisas, porque era uma pessoa muito ocupada e não queria desviar, nem seu tempo, nem a rotina do estabelecimento com os fins solicitados. Deixava entrever que os considerava relativamente “secundários”... Quando chegamos ao tema dos honorários, lhe perguntei qual era sua idéia acerca de quanto devia pagar por estas operações provisórias, que culminariam com um relatório escrito redigido por mim. O Diretor insistiu que não tinha experiência à respeito, mas que lhe parecia que meu trabalho devia ser pago por hora e com uma quantia igual a que os professores recebiam. Tal quantia equivalia ao que atualmente no Brasil (ano de 2002) seriam 15 reais por hora.. Por outro lado, colocava como condição que o citado relatório lhe fosse entregue pessoalmente e que ele decidiria quem teria acesso ao mesmo.
Expliquei-lhe que meus honorários costumavam alcançar mais de três vezes a quantia mencionada (que, por outro lado, eram os de uma consulta médica, nessa época). O Diretor manifestou que minha proposta lhe parecia muito cara, mas que, como tinha boas referências e queria concluir a questão o quanto antes possível, a aceitava, ad referendum de quanto haveria de custar a análise e a intervenção definitivas. Perguntou-me então quanto demoraria esse diagnóstico provisório e eu lhe respondi que um mês, tempo que evidentemente não lhe agradou. Para concluir solicitei-lhe que me autorizasse por escrito a freqüentar todos os espaços da escola, o que fez com visível mal estar.

Análise da Implicação.

Levei o caso aos meus companheiros de equipe que, com algumas diferenças, chegaram á conclusão de que eu devia aceitar fazer o diagnóstico e a intervenção provisória ( embora a condições não eram , em modo algum, nossa maneira de operara), para poder avaliar se existiam possibilidades de encaminhar o processo no sentido de melhorar o grau de participação, co-gestão ou eventualmente autogestão do coletivo do estabelecimento. Não obstante, alguns dos meus companheiros prognosticassem que era muito pouco o que se poderia chegar a fazer, numa situação como a que se apresentava.
De minha parte, compreendi que tinham razão, porque assim como se havia combinado, a intervenção não me interessava demasiado e que, não obstante a aceitação dos honorários por mim propostos era estimulante, essa não era uma razão suficiente para continuar, uma vez prevista a pouca potencialidade de transformação dessa escola.

Realização da intervenção, Análise e Diagnóstico Provisórios.

A primeira vez que visitei a escola, o diretor me recebeu e me apresentou aos funcionários e professores mediante um cerimonial muito curioso. Não suspendeu as tarefas de nenhum deles e foi percorrendo comigo os diversos escritórios apresentando-me aos funcionários sem que os mesmos interrumpessem seus trabalhos. A meu respeito se referia como “o psicólogo” (minha formação básica é psiquiatria) “que iria contribuir para melhorar o ambiente da escola”.
Para apresentar-me aos professores, acompanhou-me à sala dos mesmos, durante o período de recreio, de maneira que o tempo de conhecê-los foi tão breve que quase não consegui apresentar-me a todos. Eram vinte professores. 17 mulheres e 3 homens. A recepção que senti por parte de todos eles foi respeitosa, mas com uma marcada indiferença.
Preferi conhecer os alunos, ao redor duzentos, durante o período do recreio no pátio do estabelecimento, que era construído de cimento e que só tinha um círculo central com uma bela fonte de água. Em todo o colégio, exceto num lugar onde estava uma árvore centenária, notei não haver nem um canteiro de flores. Tudo estava limpo, ordenado e relativamente confortável.
Misturando-me entre os alunos, que estavam conversando em pequenos grupos, notei que, a não ser uns poucos que riam e se aceravam flechinhas de papel, a enorme maioria estava séria, boa parte deles calados e outros conversando em voz baixa muito significativa e infreqüente em recreios de estudantes, pelo menos dos que eu recordava. Esse tom não transmitia medo nem parecia obedecer a nenhuma norma disciplinar, senão que expressava algo parecido ao dos funcionários, um certo desânimo e indiferença. Quando me apresentava a eles me recebiam com timidez e cuidado, mas sem nenhum entusiasmo. Se eu não falava ou perguntava, eles tendiam a permanecer calados.
Em uma visita posterior, solicitei percorrer todas as instalações do colégio. Em uma ala do edifício, notei que havia na parede o que parecia ser dois espaços correspondentes a portas, que haviam sido fechadas com alvenaria, rebocados e pintados, mas de uma maneira um tanto inábil, porque era fácil notá-los de imediato. Perguntei aos alunos se estas portas fechadas correspondiam a algum recinto e me responderam que nada sabiam. O mesmo aconteceu quando perguntei a outros funcionários recebendo idêntica resposta. Solicitei ver a planta arquitetônica do edifício e descobri que neste lugar havia duas salas espaçosas. Perguntei ao Diretor em que consistiam estes lugares e porque estavam isolados. O diretor se mostrou muito surpreso e até um pouco incomodado com estas investigações -e me informou que antigamente funcionavam nestes dois espaços um gabinete de física e outro de química. Neles os alunos efetuavam experimentos como parte de seu programa de estudos. Não acrescentou mais nada e se retirou com a justificativa de que estava recebendo um supervisor do Ministério da Educação.
Passeando pelo colégio sem rumo fixo, encontrei-me com um velho encarregado da limpeza que não me havia sido apresentado. Ofereci-lhe um cigarro e só aceitou com a condição de que fôssemos fumar no banheiro do pessoal auxiliar que sempre estava deserto. Conversando com ele perguntei-lhe novamente sobre aquelas salas. Pediu-me, por favor, que não comentasse com ninguém o que ia dizer-me - e muito menos que mencionasse seu nome como fonte dessa informação. Relatou - me que fazia três anos atrás, dois alunos entraram às escondidas nesses gabinetes, realizaram uma experiência com eletricidade estática e morreram eletrocutados. O fato foi mantido em absoluto sigilo, por um acordo entre a direção, os proprietários do colégio e os pais dos alunos. Os pais exigiram, para não processar o estabelecimento por falta de medidas de precaução, que nada do acontecido fosse informado e que todo o pessoal antigo de limpeza do colégio fosse substituído. A direção e os proprietários da organização aceitaram a exigência e a realizaram em um tempo recorde, ainda que com um custo considerável. Os pais, por sua vez, se comprometeram em guardar segredo, pelo bem da tranqüilidade de seus filhos. O velho funcionário da limpeza não foi despedido, em parte porque o consideravam infradotado e incapaz de entender o ocorrido, em parte por ser um antigo e fiel empregado de vários dos proprietários em outras iniciativas similares. Ao conjunto dos demitidos jamais se lhes dera qualquer explicação sobre sua dispensa e o inquérito da Polícia local foi mantido em sigilo por influência de um dos proprietários muito ligado às altas esferas do governo.
Esta demissão massiva e inexplicável, causou entre o pessoal uma série de reações que iam do protesto até às doenças. Um ano depois destes fatos, se supõe que um deles havia se suicidado, embora seu desaparecimento tenha sido atribuído ao alcoolismo, que, por outro lado, foi um sintoma bastante difundido entre vários dos exonerados, especialmente entre os que não conseguiram novos empregos. Examinando com o pessoal da área administrativa as finanças do colégio, pude constatar que seus lucros eram bastante altos e que os salários que pagavam poderiam ser melhorados, sem maiores prejuízos para a firma.

Relatório, Contrato Definitivo, Análise e Intervenção Definitivos.

Considerando que os dados obtidos justificavam uma intervenção, mas receoso da reação que o Diretor teria frente aos dados por mim descobertos, elaborei um relatório parcial onde sustentava que tanto o pessoal da escola como os alunos e seus pais estavam padecendo de uma falta de canais de expressão, seja entre si como também com a diretoria. Sustentei que a organização era um estabelecimento sério e avançado, mas que todas as decisões eram tomadas sem a menor consulta, o que criava um ambiente de passividade que terminava por tornar-se apático e até triste. Afirmei que considerava a intervenção institucional pertinente e que propunha um novo contrato, agora definitivo, com uma duração de seis meses e com honorários e freqüência idêntica aos estipulados no contrato provisório.
Apresentei a proposta ao Diretor, que a leu com um jeito que me pareceu de uma certa benevolência, apesar de que me expressou sinceramente que não acreditava muito nesses “métodos participativos” porque em geral era uma perda de tempo que “ao final era subtraído ao trabalho concreto de aprender e ensinar”.
Entre os dispositivos que montei para levar adiante a intervenção estavam os seguintes:
Formação de uma associação de professores e outra de funcionários com reuniões quinzenais para discussão dos problemas do cotidiano do estabelecimento e apresentação de sugestões à Diretoria. Além disso propus um sistema de ajuda mútua para colaborar solidariamente com os membros que estivessem passando dificuldades pessoais. Sugeri também a filiação de todos ao Conselho de Educação e ao Sindicato dos Docentes.
Formação de um Centro de Estudantes que implantasse uma dinâmica similar à da associação dos professores e dos funcionários, além de organizar festas periodicamente, apresentações teatrais protagonizadas por eles mesmos e projeção de filmes com debates posteriores.
Recomendei a implantação de caixas lacradas de sugestões anônimas, para serem lidas e consideradas pelo diretor e um grupo de 4 professores designados democraticamente pelos mesmos.
Sugeri a realização de uma assembléia semestral da qual participassem livremente todos os integrantes do estabelecimento, assim como o Diretor e os pais dos alunos que assim o desejassem, onde pudessem discutir todos os temas que os diversos quadros considerassem procedentes. Sabia que assim estava contrariando uma promessa feita ao Diretor, mas expliquei que esse havia sido um pedido dos pais, quando se inteiraram, através dos alunos, da intervenção.
Sugeri a formação de uma comissão permanente de pais de alunos, que se reunissem com regularidade fora da escola e que apresentassem á diretoria suas aspirações e proposições.
Durante esses seis meses acompanhei com empenho e cuidado a formação e funcionamento de todos os dispositivos, participando ativamente em quantos meu tempo contratado assim o permitisse. Sugeri a projeção de alguns filmes e algumas obras de teatro onde o tema da morte e do segredo era tratado de maneira tangencial e coordenei os debates que se seguiam às citadas apresentações. As reuniões com os pais dos alunos foram muito difíceis de coordenar, porque o conhecimento dos fatos fundamentais da problemática foi mantido rigorosamente em reserva nos debates, cumprindo com o compromisso contraído, entre eles e com a Direção. Em nenhum momento foram mencionados.
A primeira assembléia geral realizada coincidiu com a finalização de meu contrato. Propus para início da mesma, que contou com a presença massiva de todos os quadros, a dramatização de uma cena cujo argumento escrevi e cuja apresentação ensaiei com um grupo de alunos e professores que haviam se destacado durante esse semestre por suas condições teatrais. A obra se denominava “O enterro da morte” e consistia, muito brevemente dito, na representação da cerimônia fúnebre da morte em si mesma, que havia morrido porque um grande mago tinha conseguido revelar todos os segredos de seu letal ofício. Durante a representação, muitos pais choraram e a reação do público, em geral, foi muito emocionante e comovedora.
Durante o debate posterior na assembléia, uma das mães dos alunos pediu mil desculpas aos seus colegas e a todo o auditório e revelou toda a história oculta e secreta. As reações frente a essa confissão foram variadas. Alguns pais incomodaram-se seriamente ante a revelação considerando-a indiscreta e brutal. O corpo de funcionários e professores se mostrou profundamente envergonhado e penalizado pelo suicídio do colega (que desconheciam). O diretor conseguiu pronunciar um longo discurso cheio de justificativas ético-pedagógicas - científicas acerca da conveniência da atitude que havia sido tomada, mas admitiu, visivelmente irritado, que já não tinha sentido manter o segredo e que percebia que não seria nunca mais necessário adotar um comportamento similar.
A assembléia decidiu, por alta porcentagem de votos favoráveis, reabrir os gabinetes-laboratórios, colocá-los em funcionamento, denominá-los com o nome dos alunos falecidos e colocar em suas paredes grandes fotografias dos mesmos.
Outra decisão foi legitimar os dispositivos que haviam sido implantados por minha sugestão e criar uma galeria de fotografias de todos os funcionários que haviam passado pelo estabelecimento, dando um lugar privilegiado ao professor falecido.

Informe Final, Conclusão e Continuação

Apresentei um novo relatório à diretoria com a sugestão de que o mesmo fosse discutido em assembléia, o qual, segundo fui informado, foi modificado pelo Diretor e substituído pela leitura e discussão, em separado, com cada um dos órgãos de classe institucional que foram criados.
No contrato definitivo eu havia estipulado a autorização para permitir-me retornar periodicamente ao colégio cada dois meses, durante os seis meses seguintes para finalização formal de minhas tarefas.
Nas vezes em que visitei o estabelecimento, pude constatar que a atmosfera, motivo manifesto da demanda e do encargo, havia desaparecido por completo. O funcionamento da organização, em termos de quantidade e qualidade do ensino e da aprendizagem se haviam mantido e em alguns aspectos havia melhorado notavelmente. Apenas o Diretor e alguns professores se queixaram de que os atos leves de indisciplina haviam aumentado, mas que com a colaboração de um Conselho misto de disciplina, que se formou com os integrantes de todos os quadros, tais atos estavam controlados e sem graves conseqüências.
Concluído o semestre de minhas visitas autorizadas, não retornei ao colégio, mas soube por terceiros, que seu funcionamento se mantinha dentro dos novos padrões de excelência criados, em muito boas condições de funcionamento.
Em ocasiões em que me encontrei casualmente com o Diretor, pedi sua permissão para publicar um relato da intervenção, desde logo com todas as deformações necessárias para assegurar o sigilo. O funcionário me respondeu que autorizava essa publicação para dez anos depois da data de vigência. Tentei fazer participar a todo o coletivo nessa autorização, mas mão me foi permitido.
Creio que na atualidade já se passaram trinta anos desse evento.

Gregório F. Baremblitt é Médico Psiquiatra e Psicoterapeuta, Analista Institucional e Esquizodramatista. Coordenador Geral do instituto Félix Guattari

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